sexta-feira, 19 de julho de 2013

A propósito, para não cair no esquecimento.

   
     Terreiro de candomblé destruído para construção de condomínio de luxo.

          Eu gostaria de saber como anda esse processo. Alguém tem notícias?

segunda-feira, 13 de maio de 2013

13 de maio de 1988 - 13 de maio de 2013


    Hoje só tenho a dizer que faz 125 anos que essa lei postada abaixo não é cumprida!






















                                                    

           LEI Nº 3.353, DE 13 DE MAIO DE 1888.

     Declara extinta a escravidão no Brasil

     Art. 1°: É declarada extincta desde a data desta lei a escravidão no Brazil.A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:


Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário.

Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nella se contém.
O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comercio e Obras Publicas e interino dos Negócios Estrangeiros, Bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império.

        Princeza Imperial Regente.


      RODRIGO AUGUSTO DA SILVA

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ainda sobre a escravidão no Rio Grande do Sul e Brasil

     Continuando com algumas palavras das memórias de Antônio José Gonçalves Chaves. Abolicionista somente por uma questão econômica. Texto escrito entre 1817 e 1822 em Pelotas, RS.

     ".... Mais de três milhões de escravos, entre homens e mulheres, se têm importado no Brasil e ainda abatida a parte que se tem exportado para algumas colônias espanholas, quantos milhões de habitantes não teria operado esta multidão se a desgraça de sua classe não preterisse sua procriação?
      É certamente claríssimo que a procriação desta classe é em si mesma inoperável e persiste a classe livre, para haver sua manutenção, na terrível prática de demandar esta mesma população da austera África e emprega nisso seguramente muito mais do que ela vale.
      Mais de duzentas embarcações, equipadas dos melhores marinheiros, dão entrada nos diferentes portos do Brasil anualmente, carregadas destas desgraçadas vítimas; e se calcularmos bem a grande porção de cultivadores dos gêneros que trocamos por eles, construtores e outros artistas que podiam operar trabalho muito mais útil e adequado às nossas circunstâncias, concluiremos sem hesitar que este comércio é para nós antes prejudicial do que útil...."


Fonte: Chaves, Antônio José Gonçalves. Memórias Ecônomo-políticas sobre a administração pública no Brasil. Quarta edição, Editora Unisinos, 2004.


quarta-feira, 24 de abril de 2013

A continuidade da escravidão - Parte 2

     Ainda a terceira memória de Antônio José Gonçalves Chaves.

     "... A escravatura embaraça o aperfeiçoamento da população do Brasil e de seu crescimento, ao mesmo tempo que contendo ele uma vastidão imensa de território é mui limitado na sua população, pela maior parte escrava. Como há de um homem livre associar-se na cultura da terra ou em outro qualquer ramo de trabalho com um homem cativo, se imediatamente todo o mundo o considera o mais desgraçado de todos os homens com este labéu - anda trabalhando junto com os negros - e mesmo todos têm para si que com isso perdem de sua dignidade e brio? E se é só a classe escrava que privativamente deve fazer o trabalho da agricultura e artes pesadas, como se poderão adiantar os produtos do Brasil?
      O escravo - diz um economista - consome o mais que pode e trabalha o menos que pode. É esta uma verdade que não precisa ser demonstrada: o escravo, que por modo algum pode esperar prêmio do seu trabalho, interessa-se em consumir e em não trabalhar. Tal é efetivamente a sua indigência corporal e espiritual que jamais pode ter faculdades para dirigir bem o trabalho de que é encarregado; mas ainda quando alguma entidade estranha lhe subministrasse idéias para este fim, ele, que não tem interesses por não esperar recompensa, não se aproveitava dela.
      ..... A escravatura produz todos estes males, pois se ela cedesse o seu lugar, viriam infalivelmente da Europa famílias inteiras para o Brasil: enriqueceriam bem depressa com os produtos do seu próprio trabalho; ramificariam por toda a parte e com as notícias que dessem aos seus patrícios de sua fortuna, atrairiam muito mais povos; entrelaçar-se-iam com a parte da nação mais apurada e operariam população livre, briosa, industriosa, afoita e laboriosa; ao mesmo tempo que com este terrível sistema nos tornamos incapazes de todas estas virtudes.
      Como se há de passar no Brasil sem escravos (dizem muitas pessoas), se não há quem se alugue por criado? Mas como há de haver quem se alugue, por um ano, um mês ou um dia, se quem assim poderia negociar seu trabalho se acha alugado com seus descendentes por uma eternidade! Confira-se a peremptória liberdade aos cativos e logo teremos quantos criados nós precisarmos; confira-se-lhes gradual liberdade e gradualmente teremos criados e trabalhadores de toda a espécie...."

     Com certeza Chaves era de uma inteligência grande ao prever ainda na segunda década do século XIX o que aconteceria com o Brasil após a abolição da escravatura. Chaves era abolicionista como todos dizem? Sim, claro, está escrito; mas abolicionista por uma questão econômica, não por razões humanistas, isso também me é claro. Mas o que eu acho mais importante ainda nesses textos é ver que Chaves acerta como ninguém o destino sócio-econômico brasileiro nos dias de hoje.


Fonte: Chaves, Antônio José Gonçalves. Memórias Ecônomo-políticas sobre a administração pública no Brasil. Quarta edição, Editora Unisinos, 2004.

   

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A continuidade da escravidão

     Antônio José Gonçalves Chaves, charqueador em Pelotas, dono da charqueada São João, construção iniciada em 1807 e terminada em 1810 publicou memórias sobre a economia e a política brasileira da época. Na sua terceira memória, escrita em 1817 e editada pela primeira vez em 1822, fala da necessidade da abolição da escravatura, mas não como humanista como muitos vêem, mas como um homem de negócios. Prova dentro do seu texto que traficar escravos não é vantajoso financeiramente nem socialmente para o Brasil. A partir de hoje coloco trechos destas memórias para refletirmos sobre a escravidão e os dias atuais paralelamente.

     "...A tudo quanto pode concorrer para a prosperidade nacional se opõe o sistema da escravatura, mas a civilização e a moral não são bases menos ofendidas. Um menino é desde seus primeiros dias acostumado a horrorosos castigos feitos aos escravos (com que se encaminha à ferocidade) e palavras pouco edificantes das suas famílias para com seus domésticos: estas são as impressões que para sempre se lhe arraigam na alma e é não só rara, mas quase impossível, a boa educação.
      Calcula-se a população do Brasil em quatro milhões de habitantes: mas de que porção deve sair a classe instruída se os cativos têm tolhidas as faculdades intelectuais? E se estes formam três quartos da população, como poderá de um tão pequeno número de habitantes dar-se bastante quantidade de homens de gênio e aplicação que possa fornecer suficiente massa de conhecimentos para bem dirigir a nação inteira? E se nós continuamos com o tráfico da escravatura, não deterioramos este ramo do nosso trabalho grande porção de nossa população livre? Não continua a criação desta mesma população etíope a ser inoperável e a necessidade e desta mesma demanda que nos infelicita, assusta incessantemente e nos debilita física e moralmente? Aonde iremos nós parar, pois, nesta terrível vereda de nossa economia política?"

     Caro Antônio José, essa pergunta última sua ainda é feita em 2013, a nossa economia política continua igualzinha à que o senhor e seus comparsas europeus introduziram no Brasil. Lhe digo com toda a certeza, a escravatura continua, nem o tráfico de escravos terminou. 

Fonte: Chaves, Antônio José Gonçalves. Memórias Ecônomo-políticas sobre a administração pública no Brasil. Quarta edição, Editora Unisinos, 2004. 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Para quem acha que a escravidão no Rio Grande do Sul quase inexistiu - Parte 3


     Trecho de um texto do português Francisco de Paula D'Azeredo datado de 1816 em Pelotas.

     "Como a vida se torna fácil neste magnífico país, a ociosidade é partilhada por todos os brancos, e só os escravos trabalham na indústrias que deixamos indicadas, que dão contudo lugar a um tráfico imenso, facilitado pelos grandes rios e vias aquáticas, onde se movem centenares de iates carregados de produtos do país que vêm trazer abundância à Europa e à América, e dando a esta Província uma importância imponente, que ela tem sabido conservar e aumentar, tornando-a uma das mais opulentas e magníficas deste formidável Império."

domingo, 7 de abril de 2013

Para quem acha que a escravidão no Rio Grande do Sul quase inexistiu - Parte 2


     Relato de Auguste de Saint-Hilaire em 11 de setembro de 1820 em Pelotas.

     "... Nas charqueadas os negros são tratados com rudeza. O sr. Chaves, tido como um dos charqueadores mais humanos, só fala aos seus escravos com exagerada severidade, no que é imitado por sua mulher; os escravos parecem tremer diante dos seus donos.
      Há sempre na sala um pequeno negro, de 10 a 12 anos, cuja função é ir chamar os outros escravos, servir água e prestar pequenos serviços caseiros. Não conheço criatura mais infeliz que essa criança. Nunca se assenta, jamais sorri, em tempo algum brinca! Passa a vida tristemente encostado à parede e é freqüentemente maltratado pelos filhos do dono. À noite chega-lhe o sono, e quando não há ninguém na sala cai de joelhos para poder dormir. Não é esta casa a única que usa esse impiedoso sistema: ele é freqüente em outras.
      Afirmei que nesta Capitania os negros são tratados com bondade e que os brancos com eles se familiarizam, mais que em outros pontos do país. Referia-me aos escravos das estâncias, que são em pequeno número; nas charqueadas a coisa muda de figura, porque sendo os negros em grande número e cheios de vícios, trazidos da Capital, torna-se necessário tratá-los com mais energia...."

Fonte: MAGALHÃES, Mario Osorio. Pelotas: Toda a prosa. Primeiro Volume (1809 - 1871). Ano 2000.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Para quem acha que a escravidão no Rio Grande do Sul quase inexistiu.


Notícias de Nicolau Dreys - Pelotas, 1839.


     "De tempo muito remoto, e quase desde a sua descoberta, o Rio Grande tem sido considerado como uma espécie de purgatório dos negros; até a explosão da guerra civil, quando um negro das outras províncias do Brasil manifestava alguma disposição viciosa, Rio Grande era o destino que se lhe infligia como um castigo; e ainda há pouco, quase todos os dias, os periódicos da Corte ofereciam negros para vender, com a condição expressa de serem exportados para o Rio Grande.
      Daí seguiu-se a introdução, na opinião pública, de duas conseqüências errôneas, a saber: que a população negra do Rio Grande era moralmente péssima e que também era péssima a condição dos escravos naquela Província.
      Estivemos no Rio Grande bastantes anos com muitas relações de amizade e de comércio; residimos nas charqueadas e nas estâncias; tivemos escravos comprados no Rio Grande, e podemos dizer, em abono da verdade, que nunca vimos no Rio Grande os escravos nem mais viciosos nem mais maltratados que nas outras partes da América."

Dreys, Nicolau. Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Rio de Janeiro: J. Villeneuve & Comp., 1839.


sexta-feira, 29 de março de 2013

Para pensar, refletir e reorganizar cada origem


     Como é bom irmos à nossa origem mais antiga. Como é ótima a sensação de clareza de nossa identidade. Sou gaúcho, nascido em Porto Alegre, me criei no bairro Boa Vista quando ele ainda era apenas o vizinho da Vila do IAPI, só mato em volta dos nossos pequenos apartamentos. Cresci ouvindo  desde MPB, jazz, blues, samba até os nossos tradicionalistas e fui aos poucos descobrindo esse mundo no qual eu estava inserido. Por conta das histórias mal contadas fui me desfazendo aos poucos de máscaras apresentadas por falsas origens. E hoje me vejo aqui estudando a influência de línguas e dialetos africanos no dia-a-dia do gaúcho, principalmente o homem do campo, da estância. E resolvi fazer algumas comparações com outros estudos que tem acontecido no Brasil, tais como, o estudo de Nei Lopes sobre a língua Banto. E é gratificante saber que sou mestiço, saber que tenho um pouco de sangue de português com alemão, francês com espanhol e uma descendência também negra que infelizmente, para muitos não tem valor, mas ela é a que dou mais importância pelo simples fato de ter sido oprimida desde que os africanos chegaram aqui, e é ela que exalto, e é ela que proclamo em mim. Abaixo algumas conexões à espera de comentários.

Banda - Lugar, região, paragem.
Banda - do quimbundo mbanda, zona, correspondente ao quicongo mbanda, província, distrito, parte de um país.

Obs.: aqui no sul quando se vai passear ou caminhar com ou sem destino fixo diz-se "dar uma banda". Do quimbundo dibanda, pernada.


Canga - Peça de madeira em que se colocam os bois para puxar carreta.
Canga - do quicongo kanga, amarrar, prender, capturar, apertar, de nkanga, ação de ligar; que é amarrado.


Candongueiro - Aplica-se ao animal manhoso que foge com a cabeça quando se quer por-lhe o freio, o bu çal ou tosá-lo. Diz-se do indivíduo mesquinho, manhoso, arteiro, esquivo, inquieto, que questiona por coisas sem importância.
Candonga - do quicongo nkua-ndunge, esperto, astucioso (que encontra correspondência no quimbundo múkua-ndunge) ou ainda no quicongo ki-ndonga, iniciante, noviço, aluno, aprendiz; do quimbundo ndunge, astúcia.


Cacimba - Fonte de água potável. Vertente.
Cacimba - do quimbundo kixima, poço; "lugar próprio para tirar água em rio ou lago". Na Angola pré-colonial, kasimba era o nome dado às reservas naturais de água potável da localidade de Maianga.


Em breve colocarei outros verbetes.

Fontes: http://www.estanciadapoesiacrioula.com.br/dicionario-crioulo;
            Lopes, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil, 1a. Edição. 2003.


terça-feira, 26 de março de 2013

A influência da língua Banto no português falado no Rio Grande do Sul

     Recentemente li o livro Novo Dicionário Banto do brasil de autoria de Nei Lopes onde o autor fez uma pesquisa detalhada sobre a origem de verbetes falados na língua portuguesa que tem origem nos dialetos bantos falados na África e, consequentemente, trazido pelos africanos que foram escravizados aqui na nossa terra. Então resolvi fazer uma lista de palavras que eu já vi sendo utilizadas no cotidiano gaúcho. Colocarei três palavras por postagem para que todos possam acompanhar o quanto temos de influência africana no Rio Grande do Sul.


     1. Milonga - do quimbundo milonga, exposição, queixa, calúnia, injúria, demanda, através do espanhol platino;


     2. Mocotó - do quimbundo mukoto, pata de animal, mão de vaca, correspondente ao umbundo omu-koto, amu-koto, pata de boi, cabra, suíno, etc.


     3. Tunda - do quicongo tunda, pelar, descascar, que corresponde ao umbundo tuna, malhar, contundir.


Fonte: Lopes, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil, 1a. Edição, 2003.