Antônio José Gonçalves Chaves, charqueador em Pelotas, dono da charqueada São João, construção iniciada em 1807 e terminada em 1810 publicou memórias sobre a economia e a política brasileira da época. Na sua terceira memória, escrita em 1817 e editada pela primeira vez em 1822, fala da necessidade da abolição da escravatura, mas não como humanista como muitos vêem, mas como um homem de negócios. Prova dentro do seu texto que traficar escravos não é vantajoso financeiramente nem socialmente para o Brasil. A partir de hoje coloco trechos destas memórias para refletirmos sobre a escravidão e os dias atuais paralelamente.
"...A tudo quanto pode concorrer para a prosperidade nacional se opõe o sistema da escravatura, mas a civilização e a moral não são bases menos ofendidas. Um menino é desde seus primeiros dias acostumado a horrorosos castigos feitos aos escravos (com que se encaminha à ferocidade) e palavras pouco edificantes das suas famílias para com seus domésticos: estas são as impressões que para sempre se lhe arraigam na alma e é não só rara, mas quase impossível, a boa educação.
Calcula-se a população do Brasil em quatro milhões de habitantes: mas de que porção deve sair a classe instruída se os cativos têm tolhidas as faculdades intelectuais? E se estes formam três quartos da população, como poderá de um tão pequeno número de habitantes dar-se bastante quantidade de homens de gênio e aplicação que possa fornecer suficiente massa de conhecimentos para bem dirigir a nação inteira? E se nós continuamos com o tráfico da escravatura, não deterioramos este ramo do nosso trabalho grande porção de nossa população livre? Não continua a criação desta mesma população etíope a ser inoperável e a necessidade e desta mesma demanda que nos infelicita, assusta incessantemente e nos debilita física e moralmente? Aonde iremos nós parar, pois, nesta terrível vereda de nossa economia política?"
Caro Antônio José, essa pergunta última sua ainda é feita em 2013, a nossa economia política continua igualzinha à que o senhor e seus comparsas europeus introduziram no Brasil. Lhe digo com toda a certeza, a escravatura continua, nem o tráfico de escravos terminou.
Fonte: Chaves, Antônio José Gonçalves. Memórias Ecônomo-políticas sobre a administração pública no Brasil. Quarta edição, Editora Unisinos, 2004.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Para quem acha que a escravidão no Rio Grande do Sul quase inexistiu - Parte 3
Trecho de um texto do português Francisco de Paula D'Azeredo datado de 1816 em Pelotas.
"Como a vida se torna fácil neste magnífico país, a ociosidade é partilhada por todos os brancos, e só os escravos trabalham na indústrias que deixamos indicadas, que dão contudo lugar a um tráfico imenso, facilitado pelos grandes rios e vias aquáticas, onde se movem centenares de iates carregados de produtos do país que vêm trazer abundância à Europa e à América, e dando a esta Província uma importância imponente, que ela tem sabido conservar e aumentar, tornando-a uma das mais opulentas e magníficas deste formidável Império."
domingo, 7 de abril de 2013
Para quem acha que a escravidão no Rio Grande do Sul quase inexistiu - Parte 2
Relato de Auguste de Saint-Hilaire em 11 de setembro de 1820 em Pelotas.
"... Nas charqueadas os negros são tratados com rudeza. O sr. Chaves, tido como um dos charqueadores mais humanos, só fala aos seus escravos com exagerada severidade, no que é imitado por sua mulher; os escravos parecem tremer diante dos seus donos.
Há sempre na sala um pequeno negro, de 10 a 12 anos, cuja função é ir chamar os outros escravos, servir água e prestar pequenos serviços caseiros. Não conheço criatura mais infeliz que essa criança. Nunca se assenta, jamais sorri, em tempo algum brinca! Passa a vida tristemente encostado à parede e é freqüentemente maltratado pelos filhos do dono. À noite chega-lhe o sono, e quando não há ninguém na sala cai de joelhos para poder dormir. Não é esta casa a única que usa esse impiedoso sistema: ele é freqüente em outras.
Afirmei que nesta Capitania os negros são tratados com bondade e que os brancos com eles se familiarizam, mais que em outros pontos do país. Referia-me aos escravos das estâncias, que são em pequeno número; nas charqueadas a coisa muda de figura, porque sendo os negros em grande número e cheios de vícios, trazidos da Capital, torna-se necessário tratá-los com mais energia...."
Fonte: MAGALHÃES, Mario Osorio. Pelotas: Toda a prosa. Primeiro Volume (1809 - 1871). Ano 2000.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Para quem acha que a escravidão no Rio Grande do Sul quase inexistiu.
Notícias de Nicolau Dreys - Pelotas, 1839.
"De tempo muito remoto, e quase desde a sua descoberta, o Rio Grande tem sido considerado como uma espécie de purgatório dos negros; até a explosão da guerra civil, quando um negro das outras províncias do Brasil manifestava alguma disposição viciosa, Rio Grande era o destino que se lhe infligia como um castigo; e ainda há pouco, quase todos os dias, os periódicos da Corte ofereciam negros para vender, com a condição expressa de serem exportados para o Rio Grande.
Daí seguiu-se a introdução, na opinião pública, de duas conseqüências errôneas, a saber: que a população negra do Rio Grande era moralmente péssima e que também era péssima a condição dos escravos naquela Província.
Estivemos no Rio Grande bastantes anos com muitas relações de amizade e de comércio; residimos nas charqueadas e nas estâncias; tivemos escravos comprados no Rio Grande, e podemos dizer, em abono da verdade, que nunca vimos no Rio Grande os escravos nem mais viciosos nem mais maltratados que nas outras partes da América."
Dreys, Nicolau. Notícia Descritiva da Província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Rio de Janeiro: J. Villeneuve & Comp., 1839.
sexta-feira, 29 de março de 2013
Para pensar, refletir e reorganizar cada origem
Como é bom irmos à nossa origem mais antiga. Como é ótima a sensação de clareza de nossa identidade. Sou gaúcho, nascido em Porto Alegre, me criei no bairro Boa Vista quando ele ainda era apenas o vizinho da Vila do IAPI, só mato em volta dos nossos pequenos apartamentos. Cresci ouvindo desde MPB, jazz, blues, samba até os nossos tradicionalistas e fui aos poucos descobrindo esse mundo no qual eu estava inserido. Por conta das histórias mal contadas fui me desfazendo aos poucos de máscaras apresentadas por falsas origens. E hoje me vejo aqui estudando a influência de línguas e dialetos africanos no dia-a-dia do gaúcho, principalmente o homem do campo, da estância. E resolvi fazer algumas comparações com outros estudos que tem acontecido no Brasil, tais como, o estudo de Nei Lopes sobre a língua Banto. E é gratificante saber que sou mestiço, saber que tenho um pouco de sangue de português com alemão, francês com espanhol e uma descendência também negra que infelizmente, para muitos não tem valor, mas ela é a que dou mais importância pelo simples fato de ter sido oprimida desde que os africanos chegaram aqui, e é ela que exalto, e é ela que proclamo em mim. Abaixo algumas conexões à espera de comentários.
Banda - Lugar, região, paragem.
Banda - do quimbundo mbanda, zona, correspondente ao quicongo mbanda, província, distrito, parte de um país.
Obs.: aqui no sul quando se vai passear ou caminhar com ou sem destino fixo diz-se "dar uma banda". Do quimbundo dibanda, pernada.
Canga - Peça de madeira em que se colocam os bois para puxar carreta.
Canga - do quicongo kanga, amarrar, prender, capturar, apertar, de nkanga, ação de ligar; que é amarrado.
Candongueiro - Aplica-se ao animal manhoso que foge com a cabeça quando se quer por-lhe o freio, o bu çal ou tosá-lo. Diz-se do indivíduo mesquinho, manhoso, arteiro, esquivo, inquieto, que questiona por coisas sem importância.
Candonga - do quicongo nkua-ndunge, esperto, astucioso (que encontra correspondência no quimbundo múkua-ndunge) ou ainda no quicongo ki-ndonga, iniciante, noviço, aluno, aprendiz; do quimbundo ndunge, astúcia.
Cacimba - Fonte de água potável. Vertente.
Cacimba - do quimbundo kixima, poço; "lugar próprio para tirar água em rio ou lago". Na Angola pré-colonial, kasimba era o nome dado às reservas naturais de água potável da localidade de Maianga.
Em breve colocarei outros verbetes.
Fontes: http://www.estanciadapoesiacrioula.com.br/dicionario-crioulo;
Lopes, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil, 1a. Edição. 2003.
terça-feira, 26 de março de 2013
A influência da língua Banto no português falado no Rio Grande do Sul
Recentemente li o livro Novo Dicionário Banto do brasil de autoria de Nei Lopes onde o autor fez uma pesquisa detalhada sobre a origem de verbetes falados na língua portuguesa que tem origem nos dialetos bantos falados na África e, consequentemente, trazido pelos africanos que foram escravizados aqui na nossa terra. Então resolvi fazer uma lista de palavras que eu já vi sendo utilizadas no cotidiano gaúcho. Colocarei três palavras por postagem para que todos possam acompanhar o quanto temos de influência africana no Rio Grande do Sul.
1. Milonga - do quimbundo milonga, exposição, queixa, calúnia, injúria, demanda, através do espanhol platino;
2. Mocotó - do quimbundo mukoto, pata de animal, mão de vaca, correspondente ao umbundo omu-koto, amu-koto, pata de boi, cabra, suíno, etc.
3. Tunda - do quicongo tunda, pelar, descascar, que corresponde ao umbundo tuna, malhar, contundir.
Fonte: Lopes, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil, 1a. Edição, 2003.
1. Milonga - do quimbundo milonga, exposição, queixa, calúnia, injúria, demanda, através do espanhol platino;
2. Mocotó - do quimbundo mukoto, pata de animal, mão de vaca, correspondente ao umbundo omu-koto, amu-koto, pata de boi, cabra, suíno, etc.
3. Tunda - do quicongo tunda, pelar, descascar, que corresponde ao umbundo tuna, malhar, contundir.
Fonte: Lopes, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil, 1a. Edição, 2003.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Precisamos divulgar. É urgente!
Estão fazendo uma atrocidade no Maranhão. Ameaçando o quilombo dos Pontes. Absurdo para um país que se diz democrático. Cadê tu Dilma?
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