"Desde epochas muito remotas, a população africana aqui, então representada por alguns milhares de pretos, [ ] todos os domingos e dias santos, do meio dia á noite, exhibia-se publicamente em dansas e cantigas usadas entre os gentios. O ponto dessa reunião era sempre á grande sombra de cinco de nossas frondosas figueiras, dispostas em amplo circulo que indicava o traço de um antiguíssimo curral, offerecendo, por essa amplitude, franca área e todas as condições para a diversão. Essa localidade é além do arroio Santa Bárbara, á esquerda da ponte da rua Riachuelo, entre a Manduca Rodrigues e o referido arroio6. Á hora indicada, do centro da cidade partia o grande grupo de africanos, cantando em altas vozes, ao som de rudes tambores [grifo meu], chocalhos, guizos e de extranhos instrumentos feitos de grandes porongos, revestidos de elevado número de contas, búzios, pequenos caramujos e missangas. O vestuário era exquisitissimo, constit”ído de tangas, turbantes, capacetes, mantos, tudo das mais vivas e variadas cores. Á frente, vestido no mesmo estilo, seguia o Rei, por todos acompanhado até o lugar do batuque (candombé) como elles denominavam. Todo esse cerimonial era também executado nos velórios, assim como nos enterros até o defunto baixar à sepultura. (OSÓRIO, 1922, p.174)"
Fernando Luiz Osório era formado em Ciências Jurídicas e Sociais e foi Ministro do Supremo Tribunal Federal
durante o mandato de Floriano Peixoto. Como cronista, escreveu livros e inúmeros artigos sobre a história de
Pelotas. Não foi possível identificar a data da conferência citada. Entretanto, podemos situá-la aproximadamente
logo após a abolição, considerando que nasceu em 1848 e faleceu em 1896.
Fonte: Maia, Mario de Souza. O Sopapo e o Cabobu - Etnografia de uma tradição percussiva no extremo sul do Brasil, UFRGS, 2008.
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