domingo, 20 de setembro de 2009

Histórias do quilombo de Manoel Padeiro - Parte 2

     Entretanto, a sorte dos quilombolas estava selada. em 12 de agosto, o juiz de paz do Terceiro Distrito participava que uma "partida" atacara um grupo de oito quilombolas e conseguira matar Manuel Cabunda, que, como vimos, se incorporara aos quilombolas após escapar de por eles ser morto. Após este ou um outro ataque subseqüente, Mariano, desgarrado dos companheiros, procurou refúgio, em 10 de setembro, na propriedade de Bernardino Rodrigues Barcelos, onde foi, três dias depois, preso à traição.
     Mariano foi julgado por aqueles que ofendera, quando fugira ao trabalho e ao látego e atentara contra a vida e a propriedade senhoriais. Seu processo foi mais uma farsa da justiça escravista. Abandonado pelo senhor, Mariano foi "defendido" por um advogado, nomeado de ofício, que nem mesmo se deu ao trabalho de recorrer contra a pena de morte votada "unanimemente" pelos jurados. Se sua pena não foi posteriormente reformada, Simão Vergara pagou com quinze anos, seis meses e vinte dias de prisão o ato de ter vendido pólvora aos sublevados.
     Segundo uma publicação pelotense, de 1928, no início da revolta farroupilha, em 1835, teria sido entregue "como contribuição de guerra" a quantia de "dois contos e duzentos mil réis", para o combate aos quilombos pelotenses. A expedição, que contou com um "destacamento de alemães", teria sido feita sob a direção do juiz de paz Boaventura Inácio Barcellos, que teve Joaquim Luiz da Lima como "lugar-tenente". As duas principais concentrações de cativos fugidos se encontrariam "sobre margens de dois arroios de cursos encobertos por densa mataria, afluentes, um do Pelotas, outro do arroio Grande". Não sabemos se esse quilombo era formado por remanescentes do bando de Manoel Padeiro.
     Com a revolução Farroupilha, as fugas de escravos multiplicaram-se. Os farroupilhas assaltavam as fazendas dos inimigos e libertavam os cativos que aceitassem lutar como soldados. Os soldados do Império faziam o mesmo nas propriedades farroupilhas. Nas duas fileiras, senhores convocados libertavam trabalhadores escravizados para que os substituíssem na frente da batalha. Um bom número de escravizados procurou um refúgio mais seguro do que as fileiras dos exércitos em luta. A fuga para os países vizinhos e o refúgio em quilombos atraíram um número incerto de escapados. Com a pacificação, temos notícias de várias expedições contra quilombos formados durante o decênio revolucionário. A documentação sobre o período farroupilha foi em parte perdida ou é bastante incompleta.

Texto extraído da página 311 do livro Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil de João José Reis e Flávio dos Santos Gomes.

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